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(Fonte:Latuff) |
A Teologia do Gueto acompanha a situação nos presídios do país e nos posicionamos quanto
à crise penitenciária que vem sido
veiculada nas grandes mídias e redes sociais como uma noticia tenra. A origem
do titulo da blogagem é um apelo, descrito pelo salmista Asaf, quando narrava à
situação dos cativos na Babilônia: Chegue
a tua presença o gemido do cativo: com teu braço poderoso salva os cativos da
morte (Sl 79, 11). Não fazendo falácia teológica, mas a situação dos
detentos no Brasil equivale a de um exilado babilônico, privado de seus
direitos, liberdade e jogado a própria sorte.
A Pastoral Carcerária, junto com outras
organizações e movimentos sociais, criou a Agenda do Desencarceramento, não
vista com auspícios e sim, de maneira pejorativa por conservadores e a classe
elitizada do país. Vemos a agenda com bons olhos, haja vista que
somos oriundos da periferia e sofremos (sofremos e continuamos sofrendo) com a
violência e despreparo da segurança publica que age com repressão e violência,
principalmente para com o jovem negro e pobre da periferia que,
perpendicularmente, sai de seu bairro distante dos grandes centros em um
transporte público caro e de má qualidade, fazendo o itinerário para local de
trabalho, estudo ou mesmo lazer, e não ter a certeza de retorno para casa, podendo
ser preso ou assassinato, tornando-se estatística dessa macabra matemática classista que preferimos classificar como vitimas do despreparo do sistema.
Voltando a crise penitenciária, vemos
que o encarceramento em massa e a violação dos direitos humanos atrás das
grades gera o estopim que vemos hoje: as rebeliões e assassinatos nos complexos
penitenciários brasileiros teve como proemio a conivência do Estado. A
população carcerária do Brasil cresce em progressão geométrica, em
contrapartida, o encarceramento maciço e a lentidão no judiciário que analisa de
forma aritmética os encarcerados é um dos problemas graves que analisamos, pois essa progressão macabra
de encarceramento transforma as penitenciarias e centros de detenção
provisória do Brasil em verdadeiros depósitos de seres humanos. A falta de
politicas públicas e o abandono do Estado para com o preso, o deixando no ócio
e em condições sub-humanas, consequentemente geram rebeliões e assassinatos
dentro dos complexos penitenciários, onde em um ambiente hostil, os
desentendimentos tornam-se uma constante, e dialogo e mediação na maioria das
vezes não é possível. Para essa situação, lembremo-nos de Isaias e o oráculo de
Deus: para você abrir os olhos dos cegos,
para tirar os presos da cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro (Is 42,
7).
A humanidade sempre atrelou justiça
com punição. Prisões existem há milênios, e sempre houve fugas, rebeliões e
assassinatos. As secretarias de segurança pública e administrações penitenciais
tem ciência de que mais presídios e politicas de encarceramento (como por
exemplo, redução da maioridade penal), não diminuirão a violência. Como somos
cristãos, buscamos observar a situação como Cristo faria. E ai nós indagamos:
será que Cristo apoiaria invasões das tropas de choque para agredir os presos
rebelados? Acharia conforto o preso ter uma biblioteca com livros em boa
condição e um rádio para acompanhar e se informar do mundo externo? Acharia
injusto que presos terem cursos profissionalizantes e oficinas para
desenvolverem seus talentos e ofícios? Acharia folga os presos terem o mínimo
de condições de higiene e alimentação?
Creio que Jesus deixou clara essa mensagem a nós por meio da epístola
aos Hebreus: lembrem-se dos presos, como
se vocês estivessem na prisão com eles. Lembrem-se dos torturados, pois vocês
também tem um corpo (Hb 13, 3). Chegamos a conclusão de que Jesus olharia a
atual conjuntura da situação penitenciária em nosso país com uma face
macambúzia.
O que buscamos? Um mundo mais justo
e equitativo, em que todos possam ter as mesmas oportunidades. Quando Jesus
iniciara sua vida pública, voltou a Galileia e pregara em uma sinagoga a
profecia de Isaias: O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos
cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos (Lc 4, 18. Vide Is
61, 1). Por essa ótica, fica claro que Jesus Cristo busca essa equidade social
e um mundo sem grades de ferro. Partilhamos a ideia que, o
encarcerado deve ser visto como um ser humano, se ressocializar e ser redimido
de seu erro. Para isso, seguimos contra a politica do encarceramento em massa e
por uma justiça restaurativa, pelo bem comum e pela dignidade humana. Pois
Cristo diz dos que olha com misericórdia aos encarcerados: Eu estava na prisão, e vocês foram me visitar (Mt 25, 36b).